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  • Foto do escritorBUD CONSTRUTORA

As cidades brasileiras tornar-se-ão inteligentes depois da pandemia?


A pandemia nos mostrou duas realidades importantes. Uma é de que as cidades brasileiras não estavam preparadas a tal sismo, como aliás poucas no mundo.  Não foram estruturadas como cidades inteligentes e, por isso, temos que descobrir o caminho para torná-las inteligentes. Outra realidade é que cometemos erros históricos no Planejamento e na Mobilidade de nossas cidades. Temos que corrigi-los e não podemos cometê-los novamente.

Mas como tornar nossas Cidades Inteligentes?  Cidade Inteligente é aquela que tem como foco a qualidade de vida dos seus cidadãos.  Para isso, ela necessita criar:

  • Um meio ambiente inteligente, isto é, ar não poluído, energia eficaz, saneamento do esgoto, tratamento do lixo, etc.

  • Um planejamento urbanístico inteligente, com muito verde e áreas livres, conjuntos habitacionais estruturados, zonas industriais e comerciais bem planejadas, para o bom convívio social.

  • Uma população com modo de vida inteligente, isto é, pessoas educadas, respeitosas das leis e dos outros, que amem de fato sua cidade.

  • Uma economia e uma gestão pública inteligentes para haver sustentabilidade.

  • Por fim, uma Mobilidade Inteligente, seguindo o conceito da “Mobilidade como Serviço” (MAAS – Mobility As a Service).

O conceito de MAAS surgiu na Finlândia e se transformou, para as cidades modernas, numa inovação disruptiva. A UITP (União Internacional de Transportes Públicos) o adotou como diretriz. Nele, o usuário do transporte é o centro das atenções. Os seus deslocamentos têm que ser ágeis, seguros, fluidos, flexíveis e com acesso fácil. Tudo perfeitamente integrado “on-line”, desde a origem até o destino das viagens, com o uso de todos os modos de transporte disponíveis, individuais ou públicos, motorizados ou não.

As cidades Inteligentes e o MAAS necessitam de muita tecnologia avançada com ferramentas de TI e de telecomunicações poderosas, tais como Internet 5G, BIG DATA, Georreferenciamento, Internet das Coisas, Inteligência Artificial, Nova Geração de Sensores, Reconhecimento Facial, Moeda Criptografada e, por fim, Segurança Cibernética. Toda essa tecnologia oferece certamente riscos que não podem ser ignorados, como a invasão da privacidade das pessoas, a ação dos hackers e principalmente o controle político dos cidadãos, lembrando “1984”, a famosa obra de Orwell. O Brasil está muito avançado no domínio das tecnologias de ponta e não vejo grandes riscos, entre nós, em termos de controle político. Nosso problema não é tecnológico, mas sim de opções equivocadas que fizemos no passado e erros que cometemos. Precisamos corrigi-los e não cometê-los novamente.

Para o transporte individual, temos que investir nas ciclovias, como faz Paris, e deixar de privilegiar o carro particular. No Transporte Público, temos que investir nos modos ecológicos, eficientes, rápidos e baratos. A escolha adequada dos modos para uma Cidade é fundamental para seu planejamento e deve seguir critérios técnicos e não políticos, porque tem grande impacto urbano e ambiental, a médio e longo prazos. A questão da oferta, face à demanda, é fundamental nessa escolha para garantir um transporte de qualidade, no horizonte do projeto.  Qualidade da oferta significa segurança, tempo reduzido na viagem, velocidade, acessibilidade e conforto, além da flexibilidade para sua adaptação às condições locais. A tecnologia escolhida precisa ser ecologicamente limpa, ser conhecida e comprovada e que possa permitir uma operação e manutenção simples e baratas. Mas não é suficiente selecionar a melhor tecnologia. É necessário implantá-la adequadamente. A questão econômica e financeira é obviamente determinante, por isso é necessário um estudo de engenharia financeira que inclua os benefícios e as externalidades da tecnologia. O grande erro que nossas cidades têm muitas vezes feito, foi escolher um modo de transporte inadequado, com uma visão política de curto prazo, onde custo e recursos foram os únicos critérios.


Como erros cometidos, há muitos casos que eu poderia citar. Vou me ater a alguns exemplos emblemáticos.  A preferência por projetos de BRTs que, em princípio, deveriam ser corredores de ônibus, com veículos de alta capacidade, ecologicamente limpos, para oferecer um serviço rápido, eficiente e de qualidade, mas têm sido mal implantados e se tornaram um transporte ineficiente, inseguro, barulhento, que degrada muito o entorno. Exemplos claros disso são os 125 km de corredores no Rio de Janeiro e os de São Paulo nas Avenidas Santo Amaro e Vereador Diniz.  Nossas cidades, entranhadamente, não têm considerado a opção do VLT, que é um sistema de transporte elétrico ideal para um corredor de média capacidade e cuja implantação é geralmente fruto de um projeto associado a uma renovação urbana. É bem mais abrangente que um simples transporte de pessoas. Ele tem sido um marco de valorização de muitas cidades pelo mundo afora, praticamente em todas as cidades francesas. Mas não tem sido uma alternativa considerada pelos municípios brasileiros, em função de seu alegado alto custo e prazo de implantação incompatível com os prazos políticos.  Com exceção do Rio de Janeiro, que tem um VLT que revolucionou a Cidade em termos de renovação urbanística e a Baixada Santista, que também o adotou como uma alternativa ecológica, as nossas cidades têm preferido sistemas de ônibus, mais baratos e de menor prazo de implantação. São Paulo projeta uma ligação por BRT, do ABC até as linhas da CPTM e do Metrô que, no meu entender, deveria ser um VLT ou mesmo uma linha de metrô clássico. Monotrilho, não. Esta comprovou ser uma tecnologia inadequada, ineficaz e poluente. Os corredores Norte/Sul e Leste/Oeste de Goiânia, previstos para terem um VLT, são corredores de ônibus que degradam a região.  O VLT de Cuiabá, prometido para operar em 2014, tem suas obras paralisadas há mais de 6 anos, com seus 40 veículos adquiridos e entregues, sujeitos à deterioração num pátio improvisado.



Assim, como se vê, não perdi as esperanças, apesar de meu pessimismo quanto ao panorama, sem precedentes, das cidades brasileiras durante e depois da pandemia. É só trabalhar para tornar nossas cidades mais inteligentes e não cometer os erros do passado, principalmente no que tange ao transporte público. Tenho fé que a médio e longo prazos, tudo será diferente. As cidades vão se reestruturar. Os urbanistas, nos seus projetos, vão ter que sanar os graves problemas habitacionais e tornar os ambientes mais verdes, mais abertos e mais seguros, levando em conta possíveis novos surtos sanitários. As calçadas serão mais largas e mais ciclovias serão construídas. No que tange ao transporte público nas grandes cidades, ele continuará a ser vital, principalmente para a população menos favorecida, mas vai ter que se reinventar para conseguir os recursos necessários.  O diálogo entre os municípios das regiões metropolitanas vai ter que existir, com a criação obrigatória de uma autoridade única para a gestão dos transportes. O poder público vai ter que introduzir profundas modificações na sua política, no seu planejamento e nas suas prioridades em termos de transporte. Como será isso?  Ninguém sabe com certeza. A esperança é que, passo a passo, nossas cidades vão se tornar mais inteligentes e não vão mais cometer os erros do passado. Por enquanto, tudo são “incertezas”.


http://www.brasilengenharia.com/portal/transportes/18526


*Engenheiro Peter Alouche – Consultor de Transporte – peter.alouche@uol.com.br – Engenheiro Eletricista, formado no Mackenzie, pós-graduado em Sistemas de Potência na Poli-USP, com diversos cursos de especialização em transporte público na Europa e Japão.

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